Parceiro ideal x real – As projeções nos relacionamentos
Atualmente, quando um homem se apaixona por sua mulher ideal, projeta sobre ela os atributos da mãe divina: beleza, bondade, castidade, amor revigorante. Ela, por sua vez, projeta sobre ele os atributos do pai divino: lealdade, força, virilidade, o rochedo de Gibraltar no centro de sua vida. No começo, amor e desejo são uma só coisa no jardim do Paraíso inconsciente de ambos.
Quando a realidade se insinua no Jardim – freqüentemente após a cerimônia-do casamento – as projeções começam a cair por terra. Talvez o homem se sinta sufocado pelas expectativas da parceira; a própria bondade dela suscita nele culpa quando sonha em encontrar a liberdade com uma “mulher real”, que possa recebê-Io como “homem real”. Ao mesmo tempo em que ama sua mãe “perfeita”, procura escapar de seu lado negro, a bruxa voraz a quem jamais consegue dar o suficiente. Ela, insegura em sua própria condição de mulher, percebendo o afastamento dele, vê-se apegada, como criança rejeitada, ao pai que a está abandonando.
Presos na armadilha de seu amor (ou dependência neurótica), um deles ou ambos podem encontrar outro parceiro menos perfeito, com quem consigam manter relacionamento mais humano, mas sensual, que envolva menos compromisso. Essa ruptura pode durar muito tempo. Mas, por trás da ruptura, permanecem rancor, expresso ou reprimido, e a ânsia profunda por união total.
Se a consciência for introduzida nesta situação, a causa do distúrbio pode tornar-se clara. Em sonhos, por exemplo, a mulher pode de repente tornar-se mãe no leito nupcial, ou o marido tornar-se pai. Ao trazerem seus corpos à percepção consciente, as mulheres freqüentemente descobrem que não conseguem entregar-se à penetração sexual. Percebem que são mãe do marido-filho, ou filha do marido-pai. Em ambas as situações, seus corpos dizem não ao incesto. Independente de quão intensamente amem o marido em espírito, seu lado material rejeita esse relacionamento inconsciente. Um período de celibato, então, pode conduzir à integração sexual e espiritual.
Agora, à medida que os homens vão tornando-se mais conscientes, sua matéria, da mesma maneira, rejeita o incesto com mãe ou filha, e sua impotência os impele a novo nível de relacionamento, no qual o homem maduro se une à mulher madura. E tempo de angústia intensa tanto para os homens quanto para as mulheres, tempo que exige paciência, coragem, e honestidade assustadora.
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Séculos de divisão entre espírito e matéria nos deixaram distantes tanto de compreender quanto de experimentar a matéria como algo sagrado. Diariamente a terra é violada. Diariamente a sabedoria do corpo humano é devastada pela mente. Enquanto permanecemos inconscientes da divindade inerente à matéria, a sexualidade é manipulada para preencher desejos do ego (…)
A luz não vem através do incessante mergulho na escuridão. Toda a nossa raiva, toda a nossa amargura, todas as nossas lágrimas são degraus que, através da escuridão, nos conduzem à luz. Mas tudo isso são apenas degraus. Somente a partir da visão clara de nossa unicidade, a partir da experiência de amor genuíno, podemos viver a nossa própria verdade. Independente de esta experiência se verificar por meio de outro ser humano ou por meio da aproximação solitária com o divino, é esta experiência que ilumina a nossa vida.
Texto de Marion Woodman – Analista Junguiana e autora de vários livros