Consciência Lunar: O valor da escuridão
Desde os primórdios da humanidade, a Lua e suas fases foram associadas à Deusa e à mulher, representando o princípio feminino, a fonte da vida. O culto da Lua era universal. Os mais antigos calendários eram lunares, baseados na relação entre as fases da Lua e os ciclos menstruais.
A Lua, através das suas fases, reflete as mesmas flutuações que acontecem no corpo e na psique humana. Ao longo das nossas vidas, experimentamos a alternância entre começo e fim, criação e dissolução, luz e sombra, consciente e inconsciente.
Com o advento das sociedades patriarcais, que substituíram e erradicaram as culturas matrifocais, começou a supervalorização do Sol e das suas qualidades – logos, razão, consciente – prevalecendo sobre a Lua, regente das energias psíquicas, da emoção, da intuição e do inconsciente. Em lugar da unidade contida na essência multifacetada da Deusa, surgiu a dualidade, simbolizada pela oposição das polaridades e dos luminares.
Com essa divisão em luz benéfica e sombra maléfica, surgiu a cisão do ser, a dicotomia artificial da personalidade. A repressão das manifestações lunares condenadas como perniciosas e perigosas – mas intrínsecas à psique, feminina ou masculina – levou às manifestações destrutivas das projeções da sombra.
A existência da fase escura de qualquer ciclo demonstra a transição entre morte do velho e o nascimento do novo. A escuridão representa um tempo de repouso, recolhimento, cura e preparação para um renascimento. A nossa psique experimenta períodos escuros quando nos sentimos atraídas para nosso interior e nada parece acontecer.
No entanto, esses tempos “vazios” costumam prenunciar fases criativas, de transformação e expansão. Ao compreender e praticar o valor da escuridão, reaprenderemos a magia ancestral dos rituais femininos e conseguiremos a renovação necessária para a continuação da nossa vida.
Fonte: Círculos Sagrados de Mirella Faur